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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

África: as especificidades dos caminhos para a independencia em diferentes esferas imperiais.

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“ Quando somos libertados de nossos medos, nossa presença automaticamente liberta a outros”. Nelson Mandela.



Os países trabalhados nessa postagem são: Tunísia, Marrocos, Líbia, Eritréia, Etiópia, Libéria e as ilhas de Madagascar, Comores, as ilhas gêmeas de Mauricio e Reunião, Seychelles. Especificidades de cada área trabalhada: a descolonização da África está relacionada com a decadência da Europa, motivada pela I Guerra Mundial pelo alto custo, dispêndio e pelos países estarem sem recursos financeiros para investir em suas colônias no Continente Africano; os países europeus estavam desgastados psicológica e financeiramente, pois a Europa estava em frangalhos, e precisava ser reconstruída, eram necessários novos mercados e novas fontes de riquezas para reerguer o velho continente e suas respectivas potências. 


O esforço de guerra despertou nos povos árabes a esperança de novas perspectivas de vida, outro fator a ser considerado foi à crise de 1929, sofrida por outra potência mundial os EUA, que abalou todo o sistema financeiro do mundo capitalista e seus mercados, e pela II Grande Guerra Mundial. O despertar do sentimento nacionalista na África e Ásia, foi impulsionado pela decadência da Europa e pela carta da ONU, que em 1945 reconheceu os direitos dos povos colonizados pela sua autodeterminação. Em 1955 ocorreu à conferência de Bandung na Indonésia, essa estimulou as lutas pela independência.

Vários fatores determinaram os caminhos das colônias africanas, para que se libertassem dos grilhões do império, dentre esses fatores, os econômicos e políticos foram importantes, mas o divisor de águas foi o fator social. A guerra fria e a polarização entre EUA (capitalismo) e a URSS (socialismo) também contribuíram para o fim dos impérios colônias, cada uma das superpotências via na descolonização uma oportunidade de ampliar suas influências políticas e econômicas. Entendemos que apesar de suas particularidades e diferentes vertentes esse processo se deu de forma rápida, pois em um espaço de aproximadamente vinte anos a Europa perde sua soberania no continente. 


São através dos desmembramentos desses processos e discussões que algumas questões relacionadas à cultura, construção social, conflitos étnicos, ideologias tomam forma, eram etnias estabelecidas, porém desunidas, sendo esse o ponto chave para o que se pode chamar de entrada discreta e camuflada, através de acordos nos quais em sua maior parte basearam-se em se aproveitar dos conflitos internos, mostrando assim que a desunião entre eles era tão grande que um desconhecido poderia servir como aliado para ajudar a dominar o outro, mas o europeu extremamente oportunista fez as alianças, forneceu o treinamento e deixou que os próprios autóctones fizessem o serviço, nesse meio tempo passou a introduzir sua cultura, pois o mesmo sabia que com as nações em conflito seria muito mais fácil dominar e controlar as sociedades africanas. 


Sendo assim eles invadiram, dominam, dividiram o continente, impondo suas instituições financeiras, políticas, sociais e religiosas, fazendo das nações, antes aliadas, subalternas agora moldes as estruturas hierárquicas européias. Este é o cenário que os Bantos, Hauças, Iorubas e os outros povos constituintes se fizeram passar devido à única e exclusiva falta de “identidade”. Esta breve análise se faz necessária para podermos entender em que cenário estava respaldado o processo de descolonização. Os temas abordam o ideal de retomada sobre seus próprios caminhos objetivados pelas nações africanas onde tiveram início a partir dos anos 30 com muitos movimentos de reagrupamento das linhagens desunidas na partilha, afirmação dos movimentos nacionalistas e a reafirmação religiosa, pois com a conquista européia um dos pilares atacados pelos dominadores com ajuda do cristianismo foi à religião devido a seu fator imagético no tocante a visibilidade da construção ideológica baseada na cultura oral. 


Com toda essa tentativa de volta as origens, esse argumento é referente à retomada da Independência em todos os sentidos, resultando em 1947 em uma série de revoltas, dentro das metrópoles para não perder as colônias, o Reino Unido agiu rápido, colocando as Comunidades das Nações para assim continuar mantendo controle, mas de nada isso adiantou, pois eram momentos de término da Segunda Guerra Mundial e os países europeus estavam desgastados e não tinham como impedir essa reação, pois os Estados Unidos com seus ideais neoliberais estavam influenciando os africanos a se emanciparem, e para isso passaram a fazer intercâmbios com os mesmos. 


Em vista aquilo que foi dito pode-se observar friamente, o mais próximo possível do real, o começo de investidas em prol da liberdade das nações africanas, em paralelo surgem figuras, ou melhor, líderes que tomaram para si o direito de trilhar os caminhos para as emancipações de suas nações. Encontros Afro-Asiáticos demonstraram um sentido de organização nunca visto antes entre dois continentes, sobre essa temática ainda pode-se dizer que foi a partir daí que o africano passou a realmente se movimentar e buscar com todas as forças a sua independência, dentro desses tópicos abordados ficou estabelecido princípios que seriam necessários a vida do africano: respeito aos direitos do homem, respeito à soberania e a integridade de todas as nações, não ingerência dos assuntos internos de outros países, direito de cada nação a se defender só ou coletivamente, abstenção de recorrer a acordos de defesa coletiva que tenham em vista servir aos interesses particulares de uma grande potência, abstenção de qualquer país a exercer pressão sobre outros países, resolução negociada dos problemas em litígio e cooperação, respeito pela justiça, respeito pelos compromissos internacionais. 


O que chama atenção foi justamente a atitude de países ainda em processo de independência se mostrar combativos a nível internacional, e mesmo sendo colônias tinham um sentimento de nacionalismo aflorado não deixando de lado o coletivismo (muitos devido ao pan – africanismo termo esse que se basearia no ideal de raça). Baseado nesses ideais citados é que se começam os ciclos de Conferências na África, sendo elas: Acra (Gana 1958) tinha como países envolvidos Gana, Marrocos, Egito, Líbia, Sudão, Libéria e Etiópia, os países independentes que se mostraram saudosos aos seus colonizadores, mas esse saudosismo não durou muito por causa do conflito no Congo e a revolta na Argélia, na qual eles pediram encarecidamente ao General Gaulle para retirar suas tropas do país, em tempos de Guerra Fria onde o bloco capitalista (OTAN) e o socialista (Pacto de Varsóvia), se digladiavam para conseguir difundir suas ideologias.


Nesse contexto os Estados Unidos passariam a viabilizar a África o sentido pan- africanista nas camadas menos letradas, a afirmação do ser negro africano dava a idéia de “identidade”, foi difundida para as camadas mais humildes depois do término da Segunda Guerra, muito por influência dos americanos que tinham como objetivo a soberania destes povos para assim inserir no sistema neoliberal ao qual chefiavam; por outro lado tinha a União Soviética que com outra forma de abordagem buscava a mesma ideologia de manter a soberania e por conseqüência garantir a sobrevivência de sua doutrina, o comunismo. 


O pan – africanismo foi um movimento fundamentado na concepção de raça como o que antes seria um fator de exclusão entre a Primeira e a Segunda guerra, passariam a ganhar uma conotação totalmente nova, pois, nasceria dos ideais eurocêntricos de igualdade entre todos; com o processo de intercambio de estudantes africanos para o meio ocidental essa ideologia foi absorvida pelos colonos, que por sua vez passariam a cultivar o sentido de nacionalismo como descreve com muita propriedade Leila Leite Hernandez no texto “Pan-Africanismo”: “É um movimento centrado na noção de raça, noção que se torna primordial para unir aqueles que a despeito de suas especificidades históricas são assemelhados por sua origem humana e negra.” Esse discurso surge em um momento para afirmar a supremacia do colonizador até se basear em argumentos ditos científicos para legitimar sua superioridade. 


Menelik
Outras sociedades africanas tiveram cursos de descolonização totalmente diferentes a exemplo da Libéria, pois, surgiu como resposta aos repatriados com terrenos comprados pela Sociedade de Colonização Americana junto a alguns chefes de povos locais. A Etiópia foi um dos países que também não participou do contexto da expansão imperialista, a razão principal era fortalecia por causa de seus mitos lendários. Esse histórico de resistências teve seu início com o reinado de Menelik. Os países que sofreram a opressão colonial deveriam dar-se as mãos, ajudar-se mutuamente e juntar-se aos que sofrem dos malefícios do imperialismo metropolitano, usar as mesmas armas e destruir o que agora era mundial. 

Era preciso destruí-los e substituí-los pela união dos povos livres. É justamente baseada nessa noção de união pela liberdade, de resgate que se respalda essa forma de reafirmação social, política, econômica e cultural, tendo o primeiro como divisor de águas para a construção dos processos de independência. Relação entre França e suas práticas: a sistemática apresentada pela França foi parecida com a maioria dos outras potencias européias pelo tratamento aos povos colonizados, geralmente o faziam pelo uso da violência para coibir e manter o controle a eles. 


Foi montada toda uma estrutura política administrativa para se fazer presente nesse novo contexto africano, sua presença era nos territórios “conquistados” era baseada através de taxas a sua economia, a religião se fazia presente através das missões evangelizadoras, sendo que esse elemento seria uma das maiores resistências pois era marcada pelo islamismo, o controle as etnias deixou de se fazer presente pois para os franceses agora interessavam as terras e não quem morava nelas. A maneira como a França se relacionava com seus colonizados era de forma quando necessária violenta pois eles exigiam o respeito a tal ponto de se colocaram no patamar de decidir suas vidas e se faziam presentes pela exploração total, pois o lucro seria exclusivamente deles. 
A maneira como os franceses trabalhavam a mentalidade africana era a de que os chefes das localidades agora pertencentes a eles, poderiam ter sua cultura “afrancesada”, através de assimilação ou associação administrativamente falando, tudo sob o olhar vigilante ao povo agora colonizado, assim seria relativamente fácil ter o domínio dos locais tradicionalmente controlados pelos muçulmanos, através de um estado centralizado e autoritário, seguindo um sistema hierárquico muito rígido. 
A França através dessas medidas controladoras justificaria sua culturalização e ao mesmo tempo impediria que os africanos se tornassem cidadãos franceses, toda essa ideologia era para de certa maneira tentar apagar a herança do que eles foram um dia, renegando totalmente tudo o que eles foram, não reconhecendo suas leis, ignorando seus costumes, leis, e a sua religião. 






Tunísia: sua capital é Tunís. Localização geográfica: Norte do continente africano. Cidades Principais: Túnis, Sfax, Ariana, Sousse e Ettadhamen. Clima: mediterrâneo na região litorânea e tropical árido no restante do território. Para a descolonização na Tunísia é necessário que se conheça o contexto desse país na época da II Guerra Mundial, pois a Tunísia enfileirou suas forças ao lado da frança, os tunisianos em junho de 1942, com a subida ao belicato de Moncef, tentaram romper os laços de submissão. 

Habib Bourguiba
A Tunísia e seu povo sofreram com a II Grande Guerra Mundial, algumas de suas cidades foram destruídas, obras de artes, as instalações portuárias foram bombardeadas, minadas e destruídas. Após 6 de abril de 1943, metade oriental dado território tunisiano foi conquistado pelos alemães e italianos, que só se renderam em 12 de maio, situação essa que só foi revertida em 14 de maio de 1943, quando Habib Bourguiba com o apoio total do cônsul-geral dos EUA, contribuiu para com a chegada das tropas aliadas em Tunis e se formasse um bloco franco-tunisiano. Na Tunísia, os jovens tunisianos formaram um movimento nacionalista (1907) que foi substituído pelo partido Destour x Neo-Destour (Destour partido da Constituição), cujo nome traduz sua principal reivindicação. O Neo-Destour, fundado e dirigido por Habib Bourguiba, reclamou a independência, que obteve em 1955. 


Neo- Destour
O caminho para a independência foi longo e nada fácil, e como é de se esperar houve conflito entre as partes, isto é entre os militantes e seguidores do movimento Neo- Destour e o governo local, deixando muitos mortos e feridos, dando inicio a uma seqüência de atos de terrorismo e contra terrorismo. Uma das principais reinvidicações do movimento liderado por Hachid a UGTT, movimento sindical que organizou uma greve geral em Tunís, para o dia 29 de novembro de 1951 reinvidicando para os tunisianos oportunidades iguais de trabalho e isonomia salarial, causando nos franceses um sentimento de desafio a sua autoridade e soberania, a resposta ao ato revelou um clima de hostilidade geral nos anos que se seguiram. 



Em 20 de Março de 1956, a França assina um protocolo e passa a reconhecer a independência da Tunísia, negociação esta presidida por Habib Bourguiba, Ladgham e Bem Ammar. Bourguiba líder de um partido nacionalista assume um compromisso de reformas no âmbito social e na infra-estrutura. Muito tempo foi chamado Regência de Túnis, nomeada sob a dominação otomana, a Tunísia passou sob protetorado francês em 1881, adquirindo a independência em 20 de Março de 1956, o país toma a denominação oficial de Reino da Tunísia com o final do mandato de lamina Bey que, no entanto, não levou nunca o título de rei, é proclamada a república, em 25 de Julho de 1957



Marrocos: sua capital é Rabat. Localização geográfica: Noroeste do Continente Africano. Cidades Principais: Casablanca, Rabat e Fès. 
Idioma: árabe (oficial), berbere francês e espanhol. Religião: islamismo, cristianismo e outras religiões. O inicio do processo de descolonização de Marrocos se deu em 1859, quando a Espanha anexou Marrocos, anexação essa que terminaria quando o Sultão marroquino Moulay Abd al-Hafid aceitou em 1912, o estatuto de protetorado francês. Nos meses de Setembro/Outubro de 1937 a propaganda nacionalista mobiliza o povo marroquino, no manifesto tendo como lema “Pão, Justiça e Instrução. A retaliação prendeu, deportou os rebeldes. 


Mohammed V
A Segunda Guerra Mundial provocou a mobilização de centenas de milhares de colonizados, que combateram ao lado das tropas aliadas por um ideal de liberdade e justiça contra a tirania nazi-fascista. De 1951 até 56, ano de sua Independência a política local foi marcada por escala de violência e atentados. A seguir à Segunda Guerra Mundial, de acordo com a “Carta do Atlântico” (assinada em 1941 Winston Churchill e Franklin Delano Roosevelt, em 1941), as forças vivas de Marrocos exigiram o regresso do sultão Mohammed V e em 1955, a França, que já se encontrava a braços com insurreição na Argélia, concordou com a independência da sua colônia, que foi celebrada dia 2 de Março de 1956. A mudança do controle francês sobre Marrocos para as mãos do sultão e do Partido Independentista Istiqlãl decorreu calmamente. Em Agosto de 1957, Sidi Muhammad transformou Marrocos em um reino, passando a usar o título de rei.




Líbia : sua capital é Trípoli. Localização geográfica: localiza-se ao norte pelo Mar Mediterrâneo, a leste pelo Egito e pelo Sudão, ao sul pelo Chade e pelo Níger e a oeste pela Argélia e Tunísia. Para entender a força da resistência na Líbia é necessário que se conheça o contexto desse país na época da Primeira Guerra Mundial e isso remontaria inicialmente ao ano de 1911 quando a Itália anexa a Líbia a sua soberania, as principais cidades eram Cirenaica, Tripolitânia e Fezzan, cidades localizadas na sua maioria nas costas do Mediterrâneo e protegidas por uma larga defesa natural de montanhas que abrigam certos oásis, esse seria o caso de Kafra, onde funcionava como uma barreira instransponível dificultando as conquistas por essa região. 

Mohammed Ibn´Ali al-Sanusi
As inquietações políticas dessa região eram fomentadas pelo povo sanusis, seguidores de Sanusiya, uma confraria criada por Mohammed Ibn´Ali al-Sanusi que era ligada as origens políticas líbias e se faziam presentes através dos símbolos islâmicos tido como sinônimo de resistência a presença européia na região. Mussolini invadiria a Líbia e travariam novamente lutas sangrentas nos dois lados, mesmo o banco de Roma comprando terras líbias à dominação italiana pouco interferiria no contexto da resistência e nos assuntos internos por causa da rigidez dos sanusis que se tornaram o principal movimento de defesa contra os italianos através de suas defesas naturais. 



Outra força poderosa de resistência contra a os italianos foi a religião considerada tão forte quanto um movimento político, pois ela enfrentaria os italianos através de suas resoluções com maior firmeza do que a utilizada contra o domínio turco, já que a doutrina sanusiya não deixava duvidas quanto a proibição dos muçulmanos vivirem sob uma autoridade não islâmica. Nesse ínterim a confraria assumiria a frente como um movimento libertador da Líbia e combatentes da fé, esse tipo de controle se faria presente pelos sanusis através da tradição de liberdade comunitária, tomado para si essa responsabilidade de resistência até 1912 ao processo de independência onde resistiriam bravamente até 1932 contra a ofensiva italiana. 


O que ocorria na Líbia era que essa possessão estava regionalmente dividida, mas com movimentos fortes e organizados pela Sanusiya, ou seja, mesmo com todas as suas limitações espaciais sem a presença política significaria unificar os vários povos e regiões do território. A independência da Líbia foi concedida logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, onde um dos fatores principais foi o fato das dissensões entre os aliados que levariam a constituição de uma comissão de inquérito denominada de os “Quatro Grandes” posteriormente assinado como um tratado de paz em 1947. 


Liga Árabe
Outro fator que foi decisivo para a descolonização da Líbia foi o desejo, ou melhor, três desejos idealizados pelos líbios para esse processo, a sua independência, a união das três principais províncias e o desejo de fazer parte a adesão da Liga Árabe. Com o termino da segunda grande guerra, a bipolaridade acirraria ainda mais esse desejo de liberdade entre EUA e a URSS, as três regiões ficariam sob os cuidados das potências européias, pela proposta dos Quatro Grandes e pela ONU foi sugerido discutir a aplicação das ideologia e do funcionamento internacional como planos para manter a “ordem” através do Plano Benin-Sforza, ou seja, quase nada mudaria, pois a tutela dessas regiões continuariam nas mãos das potências francesas, britânicas e italianas. 


independência da Cirenaica
Nesse meio de propostas e planos para uma saída pacifica a coesão dos líbios em Trípoli ganhou a simpatia do haitiano Emile Saint-Lo que ajudou na rejeição do Plano Benin-Sforza em 1918. Seyyid Idriso no exílio proclamaria a independência da Cirenaica em junho de 1944 meses depois de ter sido promulgada a Constituição do novo Estado. Em novembro de 1949 a ONU decidiria que o país deveria se tornar um Estado independente e soberano, o que viria acontecer em janeiro de 1952. Em 1951 a situação da Líbia era um desastre total a ponto da ONU criar uma Comissão de Inquérito para investigar a falta de minerais e petróleo, e mesmo assim sua independência foi proclamada, aderiu a Liga Árabe e estabeleceu relações diplomáticas com a URSS. 


Em 1959 foram descobertos poços de petróleo e com a aprovação da Lei do Petróleo foram garantidos 50% mas apesar disso tratados de “ajuda e amizade” forma firmados com a Líbia onde se destacam o feito em 1945 e durou até 1970 onde os americanos tinham o direito de usar a base americana de Wheelus Field, a Grã-Bretanha em 1953 se tornaria a maior fornecedora de armas ao exército líbio, a França em 1956 retiraria 400 soldados de Fezzan e em troca poderia dispor de terrenos de aviação até 1963 e por fim o tratado com os EUA em 1956 que permitiria a base de Wheelus Field se tornar a mais importante base americana no Mediterrâneo. 


Líbia na 2° Guerra Mundial
Embora a independência da Líbia seja reconhecida em meio a todos esses fatos históricos, no âmbito internacional é vista com novos mecanismos capaz de redefinir e reafirmam sua interdependência assimétrica entre os povos. Semelhanças e diferenças entre Marrocos, Tunísia e Líbia com relação aos movimentos de separação: as semelhanças no processo de descolonização entre esses países foi seu engajamento na II Guerra com as forças aliadas, outro fator muito forte foi o sentimento nacionalista dos povos. A descolonização da África está relacionada com a decadência da Europa, motivada pela I Guerra Mundial, a Europa estava em frangalhos e sem recursos, outro fator a ser considerado foi à crise de 1929, e também pela II Grande Guerra Mundial. 


Conferência de Bandung
Outro fator é o despertar do sentimento de nacionalista na África e Ásia, impulsionado pela decadência da Europa e pela carta da ONU, que em 1945, reconheceu os direitos dos povos colonizados a autodeterminação. Em 1955 ocorre a Conferência de Bandung ocorrida na Indonésia, que estimulou as lutas pela independência. As Independências desses países se deram o pós II guerra na sua maioria. Dentre os fatores que desencadearam para o processo de libertação dentre eles, econômicos, políticos, mas o determinante, crucial e divisor de águas foi o fator social. As diferenças com relação aos movimentos de separação: A independência da Líbia foi concedida logo após o fim da Segunda Guerra Mundial consistem que na Líbia foi fato das dissensões entre os aliados, entre eles EUA e a URSS, também os três desejos idealizados pelos líbios para esse processo, a sua independência, a união das três principais províncias e o desejo de fazer parte a adesão da Liga Árabe.


Seu processo caminhou mais na esfera de interesses e acordos políticos do que um levante propriamente dito. Enquanto em Marrocos e Tunísia houve dissidências, manifestos populares em larga escala, movimentos sindicais na Tunísia, violência e atentados sem precedência tanto no Marrocos e Tunísia, surgimento do terrorismo contra o imperialismo ocidental. Diferenças e semelhanças entre Marrocos, Tunísia e Líbia com relação aos movimentos de separação: a critica do processo de descolonização dos países africanos se dá pelo fato de que eles eram um continente e ao mesmo tempo uma ilha, pois se comportavam assim o tempo todo com suas guerras e rixas particulares, deixaram o colonizado, o invasor apoderar-se de suas terras, ao invés de se unirem como um bloco, pois o “inimigo do meu inimigo é meu amigo” se aliaram aos europeus para ganhar vantagem sobre os seus desafetos, enquanto seu problema maior seria o colonizador. 


Todos os grandes chefes das grandes civilizações africanas achavam-se forte o bastante para não ter que pedir auxilio, ajuda a outra nação ou grupo, ao contrario todos se isolaram, duraram anos mais foram vencidos pelo poderio bélico, estratégico e logístico europeu, que estava bastante estruturado e consolidado. Eles não se viam como uma grande nação e sim como grandes guerreiros pertencentes a uma civilização distinta, o exemplo disso foi os Zulus, foram dizimados da África. A maioria lutou, brigou por sua independência, enquanto outros ficaram mais no cenário político e com exceção da Libéria que não participou desse processo de descolonização, pois já nasceram livres, seus problemas começaram devido a desavenças internas. 


Península Arábica
As ilhas na sua maioria não entraram no embate como as ilhas Mauricio, bem diferente de Madagascar que seu processo de descolonização teve um caráter mais religioso, pois a rainha não aceitava a introdução do cristianismo. Os grupos sociais envolvidos são na sua maioria a das classes menos desfavorecidas, mas em alguns casos houve o apoio da parte de alguns poucos da elite, como em Marrocos e Tunísia, por exemplo, Bourguiba alia-se para poder fazer frente ao poderio do colonizador. Descolonização em Madagascar e as outras ilhas do Índico: essas ilhas fizeram parte do contexto histórico das relações com a costa oriental africana, a Península Arábica além da Síria, Iraque, Índia, Oriente Médio e China, sendo a principal rota de comércio nas longas distâncias. Em 1870 essas ilhas tiveram sua relevância duplicada pelo fato de serem o corredor de mercadorias pesadas nas rotas do Cabo e as principais rotas de comércio petroleiro. 

A história da independência dessas ilhas é particular a cada uma delas com suas especificidades ao colonialismo submetido, destacando-se pelas suas características etnoculturais e sociais, esses elementos foram os principais motivadores para os processos de independência.




Madagascar: sua capital é a cidade de Antananarivo. Localização geográfica: localiza-se no largo da costa moçambiquenha, separado pelo Canal de Moçambique, Mayotte a noroeste, Reunião ao leste e as Ilhas Gloriosas a noroeste, Juan de Nova a oeste, Bassas da Índia e Europa a sudoeste e Tromelin a leste, as Comores a noroeste e as Seychelles ao norte. A ilha de Madagascar tem sua origem nas tradições orais do povo Imerinda e Betsileu das guerras autóctones e sua localização geográfica favorecia o estabelecimento do comércio a sua cercania, nesse caso o intercâmbio significaria mais que os negócios. 





As dinastias que dominavam a ilha já apresentavam sinais de resistência contra os europeus e isso favorecia o processo de interação nacional, Radama I começaria essa luta interna unificando a ilha e nesse ínterim, se utilizaria dos ingleses para enfraquecer o domínio francês. 


Ranavalona I seria outra regente que lutaria pela descolonização e independência de Madagascar mobilizando a população contra a influência estrangeira, sobre tudo no que tangia a regilião. O processo de descolonização de Madagascar se intensificou quando França e Grã-Bretanha iniciram a partilha das ilhas e esta ficaria sob domínio francês ao passo que tentaram desmantelar o exército malgaxe, os rebeldes intensificariam sua luta de resistência ganhando feições de guerra. Jean Ralaimongo, professor betsileu fundou a Liga para o Acesso dos Indígenas de Madagascar aos Direitos do Cidadão Francês, mas pouco ou nada progrediu, aumentando ainda mais os descontentamentos que se transformariam em insurreições especialmente as organizadas pela associação secreta “ferro, pedra, rede”, soliedarizando-se com a luta contra a censura da imprensa e pela falta de liberdade de crença que antecedeu a luta nacional de 1947. 


Com os processos de independência da Indochina, iniciaram-se outros processos de desconsideração da ilha para deixar de ser colônia francesa e outro processo proclamava Madagascar um Estado livre com governo próprio; em fevereiro de 1946 o MDRM – Movimento Democrático da Renovação Malgaxe reivindicou a independência que obteve apoio na parte oriental da ilha, dominada por concessões européias por concentrar os trabalhadores agrícolas que viviam sob forte opressão dos colonizadores, para eles isso significaria o fim da exploração, impostos e trabalhos forçados. Outro partido o PDM – Partido dos Deserdados de Madagascar ficaria inquieto com a vitória do MDRM comandaria o restante das regiões da ilha pela sua administração tácita forçando que essas províncias adquirissem suas assembléias municipais para a autonomia orçamentária. Esse impasse continuou até que em março de 1947 essas disputas acabaram numa luta violenta onde foi proclamado estado de sítio em 1/6 da ilha onde o resultado foi à destruição das estradas de ferro costeiras, instalações portuárias, queima das plantações e chacina de trabalhadores rurais brancos. 


Em 29 de junho de 1960 foi proclamada a Republica Malgaxe em Antananarivo, mas Madagascar não teve um destino diferente das outras possessões francesas, que ocorreram quase que na mesma época, dada a sua integração nacional e a demanda da população aos espaços políticos e fronteiriços; a ilha é marcada pelo nacionalismo desde a sua criação e isso esta nas raízes do povo malgaxe com sua base complexa e heterogenia as características histórico-culturais que resultou na harmonia étnica, racial, religiosa aos elementos africanos.




Comores: sua capital é Moroni. Localização geográfica: ao norte é banhado pelo Oceano Índico, sul pelo Canal de Moçambique, a sudoeste por Mayotte, Moçambique a oeste e as Seychelles a nordeste, compreende as ilhas Grande Comore, Mohéli e Anjouan. 

O processo de descolonização dos territórios franceses tiveram início com os anos pós Segunda Guerra Mundial, onde houveram mobilizações para a independência no âmbito da União Francesa Democrática para igualdade a todos, curiosamente Comores optou por fazer parte da União Francesa reafirmando sua posição em 1958. Influenciada pela independência de Madagascar, votou a favor do bloco, tornando-se um Estado da “Grande ilha”. Os franceses descontentes com essa resolução resolveram formar um bloco de oposição que declarou a independência unilateral para o arquipélago e em junho de 1975 a ilha passou a ser um Estado autônomo. 


A ilha Mayotte organizou um golpe de estado onde recuperariam a ilha novamente para a França, mas isso pouca importância teve para os franceses que resolveram abandonar a ilha, esse ato fez com que Comores fosse abandonada a sua própria sorte gerando muita fome e pobreza, essa crise só aumentou o desprezo do presidente deposto e por causa disso, ele reestabeleceu a unidade política com o arquipélago. Posteriormente foi cogitado o retorno da ilha a França, mas a opinião dos comorenses foi contrária a essa decisão de continuar fazer parte do departamento frances do ultramar.




Ilhas gêmeas Maurício e Reunião.


Ilha Maurício: sua capital é Port Louis. Localização geográfica: Banhada pelo Oceano Índico, constituído pelas ilhas Mascarenhas orientais (Maurícia e Rodrigues) e por dois arquipélagos de ilhotas mais a norte: as ilhas Cargado Carajos e Agalega, as ilhas mais próximas são a ilha de Reunião a oeste e as Seychelles a norte. 
Ilha Reunião: sua capital é Saint-Denis. Localização geográfica: a leste por Madagáscar, a principal ilha é a Ilha Mascarenhas, sendo o seu vizinho mais próximo a Ilha Maurício, tem várias dependências espalhadas em torno de Madagáscar, no Índico e no Canal de Moçambique. 

O processo de descolonização dessas ilhas são relatados por poucas informações documentadas, sabe-se inicialmente que no século XVII eram possessões francesas e eram tidas como depósitos comerciais (Reunião) e foram utilizadas como ponto estratégico nas lutas franco-britânica. As mudanças políticas ocorridas na ilha Maurício aparentemente ignorava as causas menos evidentes e por isso a falta de informação referente às relações econômicas, políticas e sociais não revelavam muito sobre a sua realidade e em 1947 a ilha passou por fases graduas até o seu autogoverno. Aos poucos o voto passaria a ser universal para quem completasse 18 anos, seria promulgada a liberdade de imprensa e a alfabetização em massa começaria a dar seus primeiros resultados, nada disso, porém satisfaria o MMM - Movimento Militante do Terceiro Mundo de tendência nacionalista que se colocaria frente ao governo atrelado aos interesses da África do Sul.


Quando as pessoas começaram a despertar para a vida política, as reivindicações ao governo foram fortes o suficiente a ponto da ilha se tornar independente em março de 1968. Em relação à ilha Reunião, suas condições geográficas seriam desfavoráveis ao governo frances, a ponto de ser praticamente esquecida pela França, mesmo sendo considerada departamento, sempre foi uma ilha fadada a pobreza e ao abandono, fazendo com que houvesse um grande número de emigrantes para ao França, resumindo-se a um mero centro de presença político-militar na região. 




Arquipélago de Seychelles: localização geográfica: constituída por vários arquipélagos localizados a norte e nordeste de Madagáscar, onde a principal ilha é Mahé, fazem parte as Ilhas Seychelles, as Ilhas Amirante, as ilhas Farquhar, as ilhas Aldabra. Além de Madagáscar, os seus vizinhos mais próximos são a ilha Maurícia a sudeste, as ilhas Comores e Mayotte a sudoeste e as Ilhas Gloriosas ao sul. 




O contexto do arquipélago inicia-se em 1744 com o domínio da França sobre o local e a partir daí Seychelles tem seus primeiros habitantes os escravos que trabalhavam nas plantações de copra (amêndoa de coco seca) utilizada na fabricação de velas; em 1880 passou ao domínio da ilha Mauricio e após as guerras napoleônicas, passa ao domínio britânico que terminou com a escravidão. Em 1903 o arquipélago se separou de Mauricio e em 1976 a Grã-Bretanha lhe concedeu a independência, desde então o poder presidenciável sofreu pelas desastrosas coligações de partidas da direita e da esquerda acabando com o golpe de Estado comandado pelo PPS – Partido Popular de Seychelles. Atualmente vive de atividades decorrentes do turismo. 


Descolonização da Eritréia, Libéria e Etiópia com suas semelhanças e divergências: para entender o contexto da descolonização da Eritréia, Libéria e da Etiópia, é necessário que se entenda o contexto social e político dessas nações, já que elas não foram colonizadas por “colônias imperialistas”, tiveram ocupações sim, mas de maneiras diferente as outras regiões africanas, pois seu contexto nos mostra as particularidades referidas ao confronto com o europeu. É preciso um resgate de idéias que contribuam para salientar as pesquisas e análises históricas para compreender suas organizações sociais, culturais, suas estruturas de autoridades, além de sua importância no papel de seus intercâmbios com as regiões africanas e outros países que não os da África. 



Etiópia
A principal meta para entender o que ocorreu nesses países que não foram colonizados é preciso basear-se no valor de seu discurso ideológico bem como as políticas utilizadas para isso, essas diferentes explicações se fizeram presentes pela sua natureza através das ciências sociais e pela história desses povos. A Libéria e a Etiópia em particular participaram do contexto imperialista embora seus envolvimentos com esses impérios não implicassem em relações de colonização. A Libéria foi notadamente diferente do contexto político pelo seu envolvimento com os Estados Unidos onde se consideravam os arautos da liberdade tão sonhada, fazendo apologia a inocência dos africanos, tentando obscurecer suas características histórico-culturais. 


Libéria
A principal fundamentação na Libéria até hoje é a disputa por minerais e riquezas, piorando ainda mais os conflitos etnoculturais já existentes; a idéia da Libéria ser feita de africanos para africanos começava a ruir, duvidando da representação do que era ser livre, seu papel de reiterar a idéia de liberdade teve seus êxitos, mas até um determinado momento, desempenhando um papel fundamental na construção de discursos políticos sendo referência para várias escrituras pan-africanas. 


A Etiópia também teve seu contexto imperial aos europeus com suas expansões, não implicando uma relação colonialista até 1935, entre a busca de uma identidade e guerras travadas contra o branco europeu, a Etiópia é uma referencia obrigatória nas escrituras ideológicas de patriotismo de objetivos contra o domínio colonialista, seu destino não foi tão diferente quanto cair sob o jugo dos europeus e isso foi interpretado como uma agressão a África, reafirmando ainda mais o desejo de liberdade da luta bravamente defendida até a conquista de sua independência e daí para todos os territórios africanos.




Libéria: a sua capital é a cidade de Monróvia. Localização geográfica: limita-se ao norte por Serra Leoa e pela Guiné, a leste pela Costa do Marfim e a sul e a oeste pelo Oceano Atlântico. 

É preciso entender que a Libéria não sofreu o processo de descolonização, pois ela foi criada, e para isso é necessário compreender sua gênese desde a criação como Estado, esses fatos remontam aos Estados Unidos e sua independência e a exacerbação quando se refere à questão racial, pois os americanos tiveram que responder essas reivindicações pelos escravos esperançosos na luta pela liberdade como recompensa pela sua luta a liberdade.

Thomas Jefferson
Thomas Jefferson tratava essa questão dos escravos como uma questão política registrada pelo desconforto do que aquilo significava e o que ser faria com os negros, a solução foi repatriá-los no continente africano com a compra de terras pela Sociedade de Colonização Americana dos chefes locais africanos e de alguns povos que habitavam a Libéria. Esse novo lar seria teoricamente livre da burocracia européia do final do século XIX, e sua composição seria composta pelos afro-americanos (américo- liberianos) na sua maioria coagidos por ameaças ao lado de fugitivos da escravatura dos brancos e do racismo.





Famílias américo-liberianos
Esses imigrantes se dirigiriam para a capital Monróvia sempre sob olhar voltado ao modelo americano, tendo a convicção de ser o melhor lugar do mundo para se morar, assumindo um elemento mítico de ter sido criada para seu povo por pessoas de mesmas características, enfim, seria o inicio de uma sociedade formada por uma rede de povos imigrantes. Sua estrutura política era baseada na instituição americana, com um parlamento e uma Câmara de Representantes e Senado, a falta de mecanismos e instrumentos por parte do Executivo combinada a diferenças e condições locais fizeram com que algumas famílias américo-liberianos assumissem o poder político.

Mesmo com a divisão dos partidos aparentemente ser superficial os republicanos dominaram até 1870 quando foram derrotados pelos True Whigs, sendo que o mandato durou apenas um ano, em 1877 os republicanos perderam novamente as eleições e os True Whigs ficaram no poder até 1980 quando foram depostos pelo golpe de Estado comandado pelo general Samuel Doe. A história da Libéria impressiona por características fundamentais que delineavam essa realidade, sendo uma delas as regiões centrais deterem o poder das regiões periféricas por meio de relações clientelistas e outra característica foi à divisão entre os américo- liberianos dos povos locais pelas suas diferenças culturais serem bastante contundentes; esse pensamento se fazia presente quando se iniciou o processo de assimilação cultural dos povos autóctones seguindo a cartilha ocidental de como proceder no dever civilizatório que incluía a conversão ao cristianismo, obedecendo a esses “deveres de casa” os locais gozariam os mesmo direitos dos colonos. 


De inicio até que deu certo com alguns recapturados, mas quando se referiam aos povos autóctones, independia de seu grau de escolaridade e mesmo instruídos, eram mantidos afastados dos negócios públicos, apenas uma minoria ter acesso ao voto e essas distancias aumentavam ainda mais pelas injustiças em relação aos américo- liberianos que tinham direitos, mesmo sendo pobres e analfabetos. Somente em 1875 é que foi permitido ocupar cadeiras no Parlamento, porém com algumas ressalvas, esse tipo de restrição acabava potencializando as diferenças étnicas culturais dos povos aumentando o descompasso das desigualdades afastando completamente a idéia de se construir uma população unida. 


Firestone
O governo liberiano se concentrava em aumentar as rendas pelos impostos de importação e exportação e nas transações marítimas e terrestres, aumentou ainda o controle e reduziu pontos de entrada e saída de produtos, com esse controle teria todos os negócios controlados a favor dos américo-liberianos. Nesse contexto o governo teria o controle econômico, social e político de uma Libéria criada pelas desigualdades entre sua população interiorana e do litoral. Essa situação foi piorando com a Primeira Guerra Mundial e pelo seu total estado de recessão econômica foi obrigada a fazer um empréstimo em troca da concessão onde a Firestone exploraria a borracha, o país deu uma guinada junto com os lucros do truste americano, a ponto de se tornar um Estado dentro de outro Estado através da exploração abusiva da mão de obra africana. Esse empréstimo estava longe de ser a solução dos problemas liberianos, pois até mesmo a Sociedade das Nações teve que intervir criando uma Comissão de Saneamento para tentar resolver essa situação em que o país se encontrava.


WillianVacanarat Saadrach Tubman
Em 1931 a Câmara rejeitou as medidas apresentadas e comprometeu-se a pagar o mais breve possível essas dividas, em 1945 a Libéria conseguiu honrar seus compromissos financeiros com a descoberta de minas de ferro, mesmo sendo o terceiro maior produtor de minérios do mundo, sua produção era controlada por companhias americanas. Com WillianVacanarat Saadrach Tubman em 1944 na presidência, a preocupação agora era elaborar e por em pratica um conjunto de reformas que permitissem aos africanos do interior e as elites autóctones os mesmos direitos que os américo-liberianos, isso aconteceu quando foi concedido o voto a todos os liberianos do sexo masculino que pagassem o imposto da palhota em dia, esse nova postura política mudaria o âmbito dos direitos políticos, colocando fim ao sistema de delegação e de administração indireta. 


Willian R Tolber
Em 1975 Willian R Tolbert foi eleito presidente e sua política se baseou nas reformas constitucionais, visando suprimir o espírito pioneiro e colonizador pela palavra de ordem através do empenhamento total, essas reformas propostas por Tolbert diminuiriam as distorções pelo plano decenal, voltado para a convivência das comunidades do interior e do litoral para que convivessem em harmonia diminuindo os conflitos. Até os dias atuais a Libéria tem que conviver com os constantes golpes de estado por governos tiranos militares que faziam uso da maquina estatal para se aliarem as grandes empresas internacionais interessadas em sues bens minerais como ferro e diamantes existentes na fronteira entre Libéria e Serra Leoa, Charles Tayler usou isso muito bem fazendo vista grossa a essa exploração e em troca receberia armas e munições para transformar pequenas rivalidades etnoculturais em verdadeiras batalhas sangrentas entre civis. Foi deposto em 2003. 


Etiópia: sua capital é Adis-Abeba. Localização geográfica: limita-se ao norte pela Eritréia, leste por Djibouti, pela Somália, sul pelo Quênia e a oeste pelo Sudão. A história da Etiópia se mistura com o mito imaginário da gênese do próprio povo etíope, isso foi firmado com o fato de serem descendentes de Menelik, soberano de Aksum, pela lenda filho de Salomão e a rainha de Sabá, seu domínio se faria presente nas abrangências do mar Mediterrâneo, lugar segundo eles, privilegiado pela sua posição geográfica que proporcionaria um intercambio com todas as civilizações, muito tempo depois houve o encontro dos etíopes com a cristandade, seriam os denominados “caras queimadas”, esse fato foi fundamental, pois formou o reinado cristão na Etiópia, isso possibilitaria que se formasse uma nacionalização religiosa, um elemento importante para ajudar no domínio das futuras conquistas. 

Rei etíope Teodoro II 
Na Idade Média igreja cresceria junto com o Estado, mas no início do século XVII a Etiópia entraria em declínio e as dinastias salomônicas se tornaria frágeis, o cenário só mudou no século XIX com o comércio da compra de armas e venda de marfim no reinado de Shoa, esse tipo de mercantilização permitiu que Shoa militarizasse a Etiópia; essa região sempre esteve nos planos dos italianos, tanto que haviam anexado uma parte da Líbia, a Eritréia em 1883 e a costa oriental da Somália em 1886 e havia comunicado as potências européias que essas regiões fariam agora parte de seu protetorado, além da Etiópia; o rei etíope Teodoro II reuniria o exército numericamente maior e bem mais equipado e derrotaria os italianos em Adowa em 1896, esse fato foi possível por que contou com a parceria de duas etnias até então inimigas, os anharas e os tigrinas, por esse fato, conseguiram estender seu domínio além das fronteiras consideradas hostis pelos povos que eram considerados difíceis de governar, com esse fato, conseguiram mais terreno ao sul e a leste na década de 1890. 


Menelik
Até 1941 existiram algumas características que ajudaram a Etiópia se manter firme no sentido de manter uma relação de independência, fato esse que se destacaria dos demais espaços geopolíticos africanos, a primeira característica foi à ordem religiosa baseada na crença divina, onde através da fé, Deus interviria a eles pela crença de serem militarmente fortes e por apresentarem uma grande capacidade de sobrevivência, a segunda característica seria a estratégia usada por Menelik, considerado um bom estrategista de guerra, ele utilizaria as armas dos franceses para se defender dos italianos que por sua vez se aliou ao ingleses para combater os franceses na região de Djibuti. A terceira característica seria a partilha da Etiópia pelas grandes potências européias, eles não se acertavam em relação em quem ficaria com qual parte, não aceitando que ninguém dominasse totalmente a região, a Convenção Tripartite até que tentaria resolver o problema, mas percebia-se que mais dias, menos dias haveria uma intervenção no país.

Batalha de Adowa
A quarta característica foi o fato das forças etíopes terem suas forças políticas fundamentadas no poderio militar sendo considerados os mais bem armados do continente, inclusive com a aquisição de material bélico moderno e a quinta não menos importante foi à vitória da batalha de Adowa, considerada a “batalha” fato que levantaria a moral dos etíopes até o presente contexto. Essa características dariam a Etiópia uma postura de grande nação por ter um passado glorioso e um futuro promissor detentor de uma grande nação, tornando-se referencial para os outros países africanos como sinônimo de libertação e movimentos de resistências frente ao branco opressor e ao mesmo tempo dando a entender que cada um poderia conquistar a sua liberdade a ponto de se tornarem referência ao pan-africanismo e a movimentos de independência cristã. 


A principio todos esses elementos seriam bons para a Etiópia, mas o país estava mergulhado em crises de integração e de sobrevivência nacional, todas as conquista feitas anteriormente seriam motivos de problemas nesta realidade contemporânea por caudas de suas diferenças populacionais e culturais, fato esse notado pelos amárico-tigrinos dominarem quase metade do território etíope, esse tipo de dominação aos territórios era baseado no sistema de guarnição com características muito semelhantes à usada pelos europeus. Com o controle quase que total dos amárico-tigrinos nas esferas econômicas, políticas e militares a região sofreria uma “amaricização”, o cristianismo seria usado como referência na administração federal, obrigando o ensino cristão nas escolas e o aramaico como língua nacional, para isso acontecer era preciso um controle centralizado, só assim teriam êxito na sociedade assimétrica e hierarquizada por uma pequena nobreza, uma elite mercantil, uma intelectualidade nascente e grupos de trabalhadores e escravos. 


Lij Yasu
Lij Yasu assumiu com a morte de Menelik e com isso as desigualdades aumentaram mais ainda, desagradando à velha casta cortesã, constituídos pela maioria Shoa, fazendo os descontentamentos dominarem toda essa realidade pela população; as potências européias “assistiam de camarote” esses desavenças esperando o momento certo para agir quando eles estivessem fragilizados pelas discórdias, nesse ínterim, Lij Yasu se uniria aos wallos, considerados desafetos de Menelik, fato esse que criou uma oposição ferrenha contra sua política interna pela sua aproximação com os muçulmanos, além de apoiar os algozes europeus no início da Primeira Guerra Mundial. Essa medidas fizeram os nobres a realizar uma coligação que destituiria ele do poderem 1946 e ficaria como prisioneiro de 1921 até 1935 onde viria a falecer. 


Hailê Salassiê
A Itália se aproveitaria dessa crise interna e com o orgulho ferido por causa da derrota de Adowa para preparar uma nova investida no território etíope através do mar Vermelho, a França e Inglaterra também fariam investidas no norte africano, então não teriam o porquê se opor aos interesses italianos, ardilosamente a Itália apoiaria a Etiópia na Sociedade das Nações em 1923, mas entre 1925-26 os italianos adentrariam o território etíope ao passo que propunham uma trégua de vinte anos, novamente descumpriram com o acordo deram início a uma penetração pacifica lenta e gradual que logo revelaria a sua verdadeira intenção: o intervencionismo militar. Hailê Salassiê assumiria o poder em 1930 com o intuito de resolver esses problemas políticos através de reformas que consolidariam a soberania interna, assim o fez no sistema político aumentando a autoridade do governo central, possuindo então poderes de imperador e grande parte dos privilégios de nobreza, essa ascensão ao poder só aumentou o separatismo social e regional cultural, aumentando o chauvinismo étnico, fato esse que colocaria em cheque a integração nacional. 


Emilio De Bono
Em 1930 o governo italiano ciente das crises internas etíopes orquestraria novamente o desejo de dar inicio as novas tentativas de recuperar o território além das fronteiras italianas até então perdido para os africanos; em 1932 o ministro das Colônias Emilio De Bono visitou a Eritréia e em 1933 Mussolini deu inicio a invasão da Etiópia por terra, mar e ar através da Eritréia e Somália enquanto agentes intervinham por terra para tentar desestabilizar o país. Em 1934 Mussolini respaldado pelo poder fascista a ele concedido, comunicou as potencias européias colonizadas que não tentassem interferir seu projeto de expansionismo. 


Pacto da Sociedade das Nações
A Etiópia tentou negociar o conflito através do Tratado da Amizade e Arbitragem, mas os italianos recusaram além de exigir desculpas e o reconhecimento da região de Walwal e uma alta indenização, Salassiê levou o fato a Sociedade das Nações, Mussolini por sua vez demonstrava forte resistência e por isso ordenou a invasão italiana ao território etíope, em 1935 os italianos atravessaram a fronteira entre Eritréia e Etiópia ao passo que “deram o troco” bombardeando Adowa ao norte e o sul foi invadido por tropas somalis. Para os italianos isso representaria a verdadeira parte que lhes cabia pela divisão feita na Conferência de Berlin, nessa época tudo fazia parte de jogos de interesses, então a Sociedade das Nações condenou a Itália por unanimidade pela violação do Pacto da Sociedade das Nações, mas pouco ou nada adiantou, o povo etíope junto com os nacionalistas africanos expuseram sua indignação por décadas, mas nada adiantou. 


Federação Pan Africana
A Etiópia não teve o apoio que necessitava França e Inglaterra quase nada fizeram, mesmo quando receberam informações de que foram utilizados gases tóxicos além de bombardearem civis, essa situação atingiu o auge quando em 1936 a Etiópia passaria para o controle italiano fato esse passado como quase que imperceptível ao olhos europeus. Em 1935 os membros dos Amigos Internacionais da Abssynia fundada por G. Padmore e Jomo Kenyatta recebera Salassiê em Londres “em nome de toda a África acorrentada” e no mesmo ano fundariam a Associação da Abssynia, em 1937 deram origem ao Escritório do Serviço Internacional Africano que em 1944 mudou para o nome de Federação Pan Africana. A Etiópia resistiria entre 1936 – 1939 e em 1941 no inicio da Segunda Guerra Mundial foi libertada pelos britânicos a partir do Sudão e do Quênia, fontes dizem que foi o próprio Salassiê que comandou as forças para libertar Adis Abeba, esse simbolismo da libertação da capital etíope só serviria para aumentar ainda mais a premissa de que a Etiópia era uma nação símbolo da liberdade. 



Eritréia: sua capital é Asmara. Localização geográfica: limita-se a norte e leste pelo Mar Vermelho, por onde faz fronteiras com a Arábia Saudita e com o Iêmen, a sul com o Djibouti e com a Etiópia e a oeste com o Sudão. O contexto eritreu dá-se em 1883 com a incorporação á Etiópia, dois anos depois os italianos com o apoio britânico o fizeram por mar em Massawa, marcando presença no interior do país, essa conquista foi respaldada pelas missões evangelizadoras que fizeram no país. A Eritréia pela sua posição geográfica privilegiada foi em 1890 invadida pela massa militar italiana por causa da posição privilegiada com o mundo africano, árabe e em particular ficou mais valiosa ainda com a abertura do Canal de Suez. 

Partido da Independência da Eritréia
Essa presença italiana se fez presente até 1941 quando perderam a posse para a Grã-Bretanha em 1952, nesse mesmo ano Hailê Salassiê fez um acordo com os americanos através de uma resolução da ONU onde a Eritréia passaria a ser um estado federado da Etiópia, garantindo assim uma saída para o mar, essa resolução imposta ao povo eritreu gerou grande indignação a ponto de criarem o PIE – Partido da Independência da Eritréia onde lutaria pela sua independência nos moldes clássicos parlamentares contra o PUE - Partido Unionista da Etiópia. Em 1960 a Eritréia virou província autônoma da Etiópia, um ano depois o partido FLE – Frente da Libertação da Eritréia iniciou a luta armada até 1967 onde foi decidido marcar um Congresso Nacional para 1971. Essa organização desfez-se e surgiu a FPLE – Frente Popular de Libertação da Eritréia, em 1976 a FPLE foram acuadas por mercenários, levando o líder Osman Sabbé a criar uma terceira organização guerrilheira a FPLE – Forças Populares de Libertação da Eritréia.

Tanto a Frente Popular de Libertação da Eritréia como a Forças Populares de Libertação da Eritréia conseguiram controlar o território eritreu em noventa por cento, no final de 1979 essa batalha piorou quando o exército etíope forçou esses movimentos a recuarem. A independência da Eritréia foi proclamada em maio de 1993 por um governo de transição, um ano depois a Frente Popular de Libertação da Eritréia realizou o III Congresso que resolveu dissolvê-lo para criar a FJD – Frente pela Justiça e Democracia para tentar achar uma solução para essa guerra sangrenta que já durava anos. 


Em 1998 depois de quase 30 anos de luta contra a Etiópia a Eritréia iniciou um processo de paz mesmo que frágil, pois muitos pontos da fronteira (mais de mil) comum em ambos os lados, herança essa desde a época colonial jamais foram demarcados, fazendo com que o impasse fique sempre presente. Em janeiro de 1999 a ONU aprovou uma proposta de onze pontos a OUA – Organização da Unidade Africana para tentar achar uma resolução pacífica para o impasse, esse reconhecimento no final dessa guerra estabeleceria as relações aos estados membros da OUA, ou seja, o respeito dessas fronteiras herdadas da colonização poderiam surgir como uma saída alternativa, mesmo sendo a primeira vez que isso acontecesse. 


Descrição e críticas as colonizações da Eritréia, Libéria e Etiópia, com suas semelhanças e divergências: todo processo de independência ou descolonização em si não é uma situação fácil de se lidar, principalmente se na maioria das vezes isso ocorre com violência como foi a maioria das ex-colônias, no caso da Eritréia, Libéria e Etiópia a maneira como os fatos ocorreram foram diferentes, pois eles não foram colonizados, mas tiveram que lutar contra essas potências como se tivessem sido. Toda potência em sí faria o possível para não perder o que “conquistaram” justificando essa possessão em nome de uma modernidade e “civilidade”, mas a maneira como o fizeram fez com que esses povos se revoltassem e lutassem por seus direitos, a herança cultural deixada não tinha como ser retirada, então os colonizados se utilizaram desses subterfúgios através do aprendizado para combater seus algozes. 


 Eritréia x Etiópia
Infelizmente depois que conseguiram se “livrar” dos europeus, tem-se a impressão que não aprenderam a lição no sentido de como fazer a “lição de casa”, pois a mesma união que fizeram para combater juntos não foi vista depois da vitória, os mesmos começaram a disputar o poder entre sí e na maioria das vezes cometendo atos infinitamente piores do que os europeus. A liberdade é algo extremamente valiosa, mas parece que não souberam explorar isso de maneira justa e coerente, afinal os interesses se reduziriam as suas particularidades e isso se fez nesses países de maneira semelhante, pois foi só se libertarem e puseram seus planos de domínio agora interno através de generais e ditadores e guerrilhas que cometiam todo tipo de atrocidade para se manterem no poder. 


Todos pregam o mesmo discurso de igualdade e modernidade para suas nações, de certa maneira alguns grupos são beneficiados por pertencerem a mesma etnia, mas quem pertencer a outro povo a primeira coisa a ser feita é riscá-los do mapa e de sua existência. São todos muito parecidos no seu discurso politicamente corretos e tão “animalescos” nos atos cometidos a seus desafetos. A esperança dos povos submetidos a esses “canastrões ditadores” é geralmente eliminada, muitas vezes isso se faz através do suprimento de alimentos, da desapropriação de suas terras e a maneira mais simples: matando-os. São todos muito parecidos no seu jeito de ser a agir, pois todos tem muitas características em comum, e ao mesmo tempo são tão diferentes ao mesmo tempo a ponto dessas diferenças se tornarem cruciais para sua sobrevivência. 


Descolonização
O grande disparate é que os mesmos colonizadores que tanto prejudicaram esses povos durante décadas agora tem que socorrê-los e lutar contra os povos que ensinaram a matar. Critica do processo de descolonização, convergências e divergências em relação a natureza do processo ocorrido, projetos de Estado, tipologia e grupos sociais envolvidos: o processo de descolonização foi algo que ocorreu na sua forma mais cruel e desumana no que tange ao comportamento humano, porém é importante lembrar que os europeus não foram de todo “os vilões” da história, houve o consentimento de muitos africanos no processo de colonização e de independência, isso representava o pensamento da época e não foi algo que ocorreu devido à benevolência e sensatez das metrópoles mas sim por necessidade expansionistas. 


O interesse nessas ex-colônias simplesmente foram deixados de lado por causa do contexto pós guerra, economicamente e “logicamente” não havia mais interesse em manter essas terras além mar, haja vista a dificuldade em administrar as mesmas, devido a complexidade e amplitude dos movimentos populares. A grande critica da descolonização foi o fato de ser reconhecida como resultado de uma ampla articulação dos movimentos nacionalistas ligados a sua negritude, suas origens, ao pan-africanismo e islamismo, além de transformações ocorridas nos âmbitos metropolitanos no século XX, impossibilitando a manutenção do colonialismo. 


Todavia, o fator mais importante diz respeito ao objetivo alcançado por parte das nações envolvidas: o controle dos mercados e dos recursos africanos, a Segunda Guerra Mundial trouxe gastos a essas nações e era necessário retomar esse equilíbrio financeiro, desse modo manter as colônias implicaria no aumento de despesas; o contato com o sistema educacional possibilitou aos africanos o surgimento de uma elite educada, a qual não mais aceitava a situação de dominação. Outro detalhe relevante foi o acesso aos elementos modernos (indústrias, construção civil para a época, aeroportos, portos, estradas, hospitais sendo que a maioria para brancos), bem como a outros tipos de informações que facilitariam as mudanças de comportamentos a uma maior visão das transformações que o mundo industrializado necessitava. 


As elites contribuiriam para os planos de descolonização pelo fato delas agora serem letradas na própria Europa, fazendo com que eles provassem o poder do conhecimento de que tanto haviam privado a esse povo. Esses novos representantes com cultura e conhecimento não aceitariam mais a situação de dominação, tanto que houve profundas modificações na economia, na política até então inexistentes e que conduziriam a descolonização a uma nova realidade. 



A descolonização foi um processo histórico tão complexo quanto a partilha, ela ocorreu pela uma necessidade das forças políticas mundiais em concretizar o projeto de expansão do capital, a independência das colônias não destruiu o império que as nações européias tanto almejaram e construíram, mas se consolidaram nas alianças que penetrariam e transformariam as fronteiras num estágio de desenvolvimento a um mundo globalizado e muito mais lucrativo. A independência dos povos africanos não alterou significativamente os problemas econômicos, políticos e de outra ordem, pois a pilhagem que o continente havia sido alvo aliada a desestruturação política a nações africanas eram constituídas por ditaduras militares exacerbadas ao do sistema de exploração de riquezas que formariam um ícone e faria presente na memória de todos aqueles que lembrariam o continente africano. 


Golpes nacionalistas 
Toda essa nova realidade de descolonização e independência foi o resultado da pressão exercida pelos movimentos nacionalistas e pelo desinteresse e incapacidade das metrópoles européias de manter esse domínio sobre os povos que tanto desprezavam e que agora provavam como o mesmo sentimento de repulsa a quem tanto oprimiram. Mesmo depois de a maioria dos estados africanos estarem praticamente constituídos na metade do século XX, a critica que se faz a esses países foi o resultado de resistências e as organizações de golpes nacionalistas com suas lutas sangrentas, lutas de guerrilha, pois muitos povos africanos mesmo depois da independência subjugavam seus rivais como selvagens. 


Outro problema até então inexistente foi uma política de administração desses Estados jovens que não tinham experiência, pois a quase não haviam faculdades, institutos, fundações que reparassem essa falta de conhecimento, essa demanda por pessoas profissionais para comandar um sistema político complexo. A maioria das populações eram analfabetas, falavam seus dialetos locais e quem era alfabetizado falava a língua dos antigos colonizadores, agravando ainda mais os problemas econômicos e sociais, esses elementos só fariam os países perderem o valor de suas mercadorias no mercado externo, aumentando a desigualdade dos produtos e as suas relações de dependência financeira e econômica com suas ex-metrópoles. 




Quando colônias, esses países tinham um controle demográfico, depois de suas independências, a população aumentou e consequentemente a fome passou a assolar essas regiões, a marginalidade urbana aumentaria inconsequentemente pelo alto numero de jovens que não tinham o que fazer; as questões políticas eram outro grande problema, pois suas constituições eram frágeis e a maioria era baseada nos moldes ocidentais, facilitando os muitos golpes militares que alguns ditadores fizeram. Os partidos políticos não tinham mais aquela união feita antes da descolonização, agora eles duelavam entre si para ver que detivesse o poder de controlar através da força, através da burocracia, da maquina administrativa, corrupção, alienação, sob esses pilares jamais se poderia construir uma nação promissora. 


As fronteiras políticas desses países eram delineadas não por uma fronteira geoetnica, mas por fronteiras geopolíticas, por esse motivo as velhas desavenças entre antigos povos ficariam mais acirradas ainda, pois eram obrigados a conviverem lado a lado na época dos impérios, depois das independências, essa rivalidades permaneceram mas agora com mais ódio, pois muitos ficaram do lado dos europeus na época e agora desejavam mais do que tudo vingança. A maioria dessas nações estavam “quebradas” pois haviam sido saqueadas durante décadas e suas riquezas internas quase não existiam. 


Mesmo depois de independentes como nação, as oportunidades para esses países foram quase nulas, pois a desqualificação dos representantes era enorme e não tinham competências para ocupar tais cargos, a conseqüência disso foi uma maquina onerosa para o Estado, dando inicio as politicagens e privilégios de altos funcionários como se fosse uma verdadeira indústria, o resultado disso foi que a maioria das nações se constituíram em ditaduras militares, com as representações populares desfeitas e a democracia riscada do mapa. 


Seria uma imperícia dizer que somente as nações capitalistas foram responsáveis pela situação em que esses países se encontravam, todos tiveram sua parcela de culpa, uns mais, outros menos, as dificuldades dessas nações agora livres de seus opressores tiveram no seu curso histórico um papel substancial nesse processo, primeiro com os escravos, depois com os agentes coloniais e por fim com os acordos as empresas estrangeiras que sugaram tudo o que havia de bom na África. 

Referência 
HERNANDEZ, Leia Leite. A África na sala de aula. Visita a História Contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2005. PP. 269 – 336. 

MENDONÇA, Mariana Gusmão de. Histórias da África. São Paulo: LCTE Editora, 2008.